quarta-feira, 31 de março de 2010

O 2º Casamento: O dos Costumes




Parte III – O Casamento dos costumes

Não é porque foi o meu casamento, mas eu nunca vi cerimônias tão lindas. A de JP garantiu a beleza formal: entradas com musicas marcantes, garantidas pela voz experiente de uma amiga... e o de Alagoas garantiu a estonteante beleza de uma essência rara: a simplicidade.

Antes de chegarmos ao povoado que já considero meu por identidade, a minha sogra e minha cunhada vieram me contar sobre o costume do lugar no que diz respeito a casamento. Sempre garantindo a tentativa de me fazer perceber que eu só faria o que me agradasse, Dona Aliete me explicou

“Olha, lá geralmente é assim como eu vou dizer... mas você só faz o que quiser. É só um costume. E é de antigamente, hoje em dia nem se faz muito isso. “
E a cada relato eu ia me apaixonando mais pelo modo de fazer daquele momento. Vou deixar para contar mais tarde...

Encostamos as trouxas em Olho D’Água, na quarta-feira pela manhã. A mamãe ganso já havia nos informado que dormir só depois do casamento. E sabe o que foi o melhor? É que foi isso mesmo que aconteceu. Minha família só chegaria ao interior na sexta-feira a noite, véspera da cerimônia. O que deu um alivio por parte da atenção que não seria possível de dar, mas deu uma angustia porque eram mais mãos para trabalhar. Qual não foi a minha surpresa ao ver, TODOS os dias, mais de 10 pessoas fazendo plantão na casa mais bonita do povoado? E essas pessoas não queriam informações, agrados ou coisas do tipo...foram pelo trabalho.

As moçoilas ficaram responsáveis pela preparação dos salgadinhos, dos tira-gostos e dos docinhos. Enquanto as mães das moças ficaram responsáveis pela preparação das criações de galinhas e do preparo da carne da Vaca. Não! Para tudo. Tenho que dedicar um pouco para a história da vaca.

Era uma sexta-feira de sol. Nós tínhamos acordado cedo, tomado café... quando chega aquela persona com uma máquina na mão, dizendo: Ei, vão matar a vaca. (A vaca foi o presente de casamento do vovô do Homero e da mãe dele!) Homero, que sabia que eu queria ver essa novidade, me encorajou para ir. Foi quando Dona Aliete deixou o pano sobre o sofá e foi também. Chegamos lá, eles estavam “Cansando a vaca”, pra quem não é familiarizado com o interior (desculpa, eu sou!): Eles amarram a vaca numa árvore e ficam dando voltas com ela, fazendo com que ela fique cansada. Pra mim, ela parecia exausta. Mas eles não cansavam de cansar a vaca. Tudo bem. Se eu soubesse o que estava por vir, preferia que ela morresse de cansaço. Depois que a vaca cansa, vem um homem experiente e dá uma paulada com machado (calma, a parte de traz) bem no meio da testa da vaca. Isso é para que ela não quebre nada ou danifique alguma parte comestível, morre “naturalmente”. É, só que o homem experiente não foi o Sr Vicente – vovô do Homero – que matou uma vaca com uma paulada só. A pobre da vaquinha teve que sofrer um pouco com as batidas na testa. A essa altura, minha sogra já estava em casa e as mais choronas também. Eu? Fiquei. Apesar de estar sentindo pena. Resolvi parar por aqui, até porque... o conto da vaca fica pra outro texto!

A Vaca foi morta. Sua carne devidamente tratada. Quantos quilos? 15 arrobas. Cada arroba tem 15kg. Isso dá 225kg de carne. Que variaram em carne assada, fígado, cozida, frita. Enfim, tudo que você imaginar para garantir a satisfação da comunidade convidada. O que acompanhava? Que tal 40 grades de cerveja + 20 caixas de latinhas. Sabe o melhor? Não faltou cerveja pra ninguém. Foi perfeito pra quem queria ficar bêbado, pra quem queria desopilar! E melhor do que o melhor... sobrou!

Claro que no primeiro momento isso não foi bom. Afinal, a investida do senhor meu sogro que queria tudo perfeito pro seu varão, gerou um ar de preocupação no meu amor. Mas, cá pra nos, nunca fui numa festa melhor!

Voltando. A sexta foi carregada. As mesas e cadeiras foram lavadas, as coxinhas foram fritas, a casa arrumada para receber as visitas, as cervejas devidamente colocadas nos congeladores. Tudo encaminhado para que o sábado ficasse mais aliviado para todas nós. Não foi bem assim! A família chegou por volta das 19h da sexta-feira e organizar esse povaréu foi difícil. Meu avô, chegou dando trabalho a D. Aliete, pedindo para ouvir Edelweiss no som, leite morno e muita bajulação. O cansaço da viagem não atingiu os mais jovens, que logo se reuniram, levaram o som e foram para a sede do casamento. Forró, funk e muita swingueira garantiu a animação das famílias – que logo sentaram em blocos. Dudu ensinando as meninas a dançar e o Seu Miguel de olho. (mais uma vez!kkkkkkk). A noite passou rápido e entre uns goles e outros e muita diversão, fomos nos aproximando.

Dormimos. Logo cedo, levantamos. Quer dizer, alguns de nós. Fomos terminar de aprontar as coisas. Edna foi para Traipu, comprar CD’s para a festa e mais algumas coisas que estavam faltando – a decoração e o bolo que iam chegar pela manhã mas não chegaram! Enquanto isso, nós fomos fazer o vinagrete. Quaaaantos tomates, cebolas, repolhos nós picamos? A mesa ia revezando, até minha vó e tia Márcia entraram no bolo. Depois de encher 10 bacias, fomos ralar cenoura e fazer outras coisas. Homero tinha ido cuidar dos cabelos. Dessa vez só o vi de relance, enquanto eu estava arrumando o salão da festa – decidindo lugar de mesa, cadeiras, disposição para padrinhos, lugar pro bolo, etc.. ele ia buscar os amigos na Volta da Serra. Nos encontramos nesse caminho. Ele, de cabeça quase raspada – mais ou menos como estava em Belém.

A água acabou. Tomei banho de cuia, ajudada e acalmada pela mamãe. O estresse foi grande. O padre não podia esperar! E é porque ele ia ficar por volta de 15min falando. Pega o buque! A Edna não chegou! E as musicas, estão prontas? Quem vai subir no cortejo com o Homero, quem vai com a Débora? Opa! A hora do Cortejo...

O Noivo vai na frente com a mãe e os padrinhos, vai a pé até a Igreja para esperar a noiva. Meu amor foi. Lindo! Com sua mãe, deslumbrante e meu irmão, Juninho foi com ele.

O resto foi comigo. Depois de muita correria, vamos sair! Duas floristas vestidas de Salmão, uma noivinha maravilhosa e prestativa, um noivinho e uma daminha foram comigo na frente. A cidade parou. Não só parou, como admirou mesmo. A família vinha atrás, em filinha indiana. O calor? 40º Celsius, vestido e barro, uma junção prazerosa. Eu só me arrependo de uma coisa! De não ter tirado e jogado longe a minha sandália para sentir diretamente o contato da terra com aquela situação toda. As famílias foram para as portas, desejar boa sorte. Me senti num filme de época. As carroças de boi paradas na praça, os homens de chapéu grande parados olhando, as mulheres tricotando e olhando. Foi lindo.

Chegamos na Igreja. A entrada foi organizada pela cumadre Arlete. Quando subi os degraus da Igreja no tapete vermelho, Teatro Mágico começou a tocar nossa música “Cuida de mim enquanto não me esqueço de você!”. Ele tava lindo. Ali, paradinho me esperando. O clima era outro! Eu estava menos nervosa, apesar de saber que estava sendo muito mais analisada e julgada. Meu avo conseguiu me entregar a ele e rir. As pessoas estavam felizes, realizadas. E era só isso que nos importava.

O Padre leu seu livrinho de cerimônias e correu bem. Ele teve que pagar a correria, esperando que nossos 20 padrinhos assinassem como “Testemunhos” do nosso enlace.

Confesso que a parte mais gratificante foi ver que alguns amigos do Homero foram. Eu sabia o quanto era importante pra ele, como era pra mim em JP. Alguns, de muita importância, faltaram. Uns ele desculpou e entendeu, outros.. caíram no seu conceito. Cada um com seu cada qual.

O cansaço bateu. É visível nas fotos meu olhar de cansada. Mas eu não podia nem descansar. Tinha tanta gente querendo nos abraçar! Consegui fugir pra casa pra trocar de roupa, com o Homero e minha mãe, claro que só depois da sessão de fotos do querido Josian (maravilhosas as fotos). Voltamos. Fizemos um rodízio de se vira nos 30 e tentamos minimamente dar atenção a todos os convidados. Sentamos aqui, íamos ali, dançamos um pouco e tentamos dar uma ajuda pra parte prática da festa.

A festa começou por volta das 14:50... muita bebida, muita comida e atendimento de primeira. A satisfação das pessoas era visível. Alguns que não participaram, vieram nos cumprimentar e dar suas justificativas... a consideração foi ótima. Dona Aliete se desdobrou em milhares e garantiu, com muito carinho, que todos fossem bem servidos. Sr Miguel foi um super-pai e podia até abrir sua própria empresa de eventos! Eu me senti muito orgulhosa de contribuir para o orgulho que eles estavam sentindo naquele momento!

A festa foi simplesmente maravilhosa. Não vi ninguém reclamando, nem pedindo cerveja que demorava, ou carne. Nota? 10 mil! Djavu, funk, pagode e “ela sai de saia e bicicletinha...” foram os pilares da dança louca do salão! Eu queria ter sido convidada dessa festa. Kkkkkkk

O melhor momento pra mim? O choro do Homero. Ver o homem forte desmontar, sem medo, sem vergonha, sem a menor preocupação foi gratificante. A preocupação que uniu a família Dionisio num momento só deles foi muito prazeroso! Ali eu tive a maior certeza de com quem eu estava me unindo. Com um homem, que foi criado e amado acima de tudo. E estava entrando numa família maraaaaaa! E sabe por que ele tava chorando? Porque queria que o casamento tivesse sido perfeito pro pai dele – que tinha garantido a parte da festa.! Existe?

Meia-noite e quarenta minutos: expulsamos os alegres convidados. O cansaço tinha batido feio, em todos nós. E o pior era saber que no dia seguinte, tínhamos que levantar cedo para garantir a arrumação de tudo, a viagem do povo de fora e a corrida pela venda da cerveja – é, PASMEM. Sobrou! O deposito disse que ia buscar no dia seguinte. E para que Sr Miguel tivesse menos prejuízo, quase todas as grades foram vendidas a preço de milho.

O prejuízo foi GRANDE. Pra quem não foi! A cerveja que sobrou foi bebida às margens do rio São Francisco, num dia maravilhoso de sol e muito banho de rio! Sem contar com o carnaval em Olho D’água! Que perfeição... a bandinha reunida na praça, todo mundo melado de farinha, andando e cantando e seguindo a canção! Uma demonstração cultural que muito me agradou! As conversas e brincadeiras em família... a faxina na casa depois que tudo passou. As inúmeras coxinhas que sobraram e foram muito bem comidas durante os dias que passamos naquele lugar... no meu lugar.

Eu não poderia estar mais satisfeita ao relembrar tudo que aquele momento representou. Eu agradeço muuito a minha nova família pelo esforço e o bom grado ao fazer tudo, ao nos consultar antes de qualquer decisão, como forma de respeito e muito amor! Dona Aliete e demais mulheres dessa família: OBRIGADA pelas noites mal dormidas, pelo preparo de tudo nos mínimos detalhes!

Aqui, eu encerro a saga do casamento... foi um momento único na minha vida. Nas cerimônias e ocasiões que celebraram o nosso enlace, antes de mais nada, nosso comprometimento enquanto companheiros.

4 comentários:

  1. ai a vaca, personagem central da trama! tu roubou meu protagonnista!!!
    kkkkkkkkkkkk

    quem deu permissão de falar de'u chorando?

    te amoo

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  2. ai flor fiquei com pena da vaca.Juro.
    :(

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  3. Nossa..realmente esse casamento marcou mesmo..festa perfeita..melhor q eu ja fui...e o povo q a gnt conheçeu também sem + né..povo maravilhoso..quero até ir de novo em olho d'agua..mto bom..as danças q eu tentei ensinar la..kkkkkk..foi mto engraçado...familia unida...tudo deu certo..foi uma festa realmente pra nunca mais esquecer....estou com saudades....

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  4. eu me senti lá *_*
    e era tudo que eu queria!

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