quarta-feira, 31 de março de 2010

O 2º Casamento: O dos Costumes




Parte III – O Casamento dos costumes

Não é porque foi o meu casamento, mas eu nunca vi cerimônias tão lindas. A de JP garantiu a beleza formal: entradas com musicas marcantes, garantidas pela voz experiente de uma amiga... e o de Alagoas garantiu a estonteante beleza de uma essência rara: a simplicidade.

Antes de chegarmos ao povoado que já considero meu por identidade, a minha sogra e minha cunhada vieram me contar sobre o costume do lugar no que diz respeito a casamento. Sempre garantindo a tentativa de me fazer perceber que eu só faria o que me agradasse, Dona Aliete me explicou

“Olha, lá geralmente é assim como eu vou dizer... mas você só faz o que quiser. É só um costume. E é de antigamente, hoje em dia nem se faz muito isso. “
E a cada relato eu ia me apaixonando mais pelo modo de fazer daquele momento. Vou deixar para contar mais tarde...

Encostamos as trouxas em Olho D’Água, na quarta-feira pela manhã. A mamãe ganso já havia nos informado que dormir só depois do casamento. E sabe o que foi o melhor? É que foi isso mesmo que aconteceu. Minha família só chegaria ao interior na sexta-feira a noite, véspera da cerimônia. O que deu um alivio por parte da atenção que não seria possível de dar, mas deu uma angustia porque eram mais mãos para trabalhar. Qual não foi a minha surpresa ao ver, TODOS os dias, mais de 10 pessoas fazendo plantão na casa mais bonita do povoado? E essas pessoas não queriam informações, agrados ou coisas do tipo...foram pelo trabalho.

As moçoilas ficaram responsáveis pela preparação dos salgadinhos, dos tira-gostos e dos docinhos. Enquanto as mães das moças ficaram responsáveis pela preparação das criações de galinhas e do preparo da carne da Vaca. Não! Para tudo. Tenho que dedicar um pouco para a história da vaca.

Era uma sexta-feira de sol. Nós tínhamos acordado cedo, tomado café... quando chega aquela persona com uma máquina na mão, dizendo: Ei, vão matar a vaca. (A vaca foi o presente de casamento do vovô do Homero e da mãe dele!) Homero, que sabia que eu queria ver essa novidade, me encorajou para ir. Foi quando Dona Aliete deixou o pano sobre o sofá e foi também. Chegamos lá, eles estavam “Cansando a vaca”, pra quem não é familiarizado com o interior (desculpa, eu sou!): Eles amarram a vaca numa árvore e ficam dando voltas com ela, fazendo com que ela fique cansada. Pra mim, ela parecia exausta. Mas eles não cansavam de cansar a vaca. Tudo bem. Se eu soubesse o que estava por vir, preferia que ela morresse de cansaço. Depois que a vaca cansa, vem um homem experiente e dá uma paulada com machado (calma, a parte de traz) bem no meio da testa da vaca. Isso é para que ela não quebre nada ou danifique alguma parte comestível, morre “naturalmente”. É, só que o homem experiente não foi o Sr Vicente – vovô do Homero – que matou uma vaca com uma paulada só. A pobre da vaquinha teve que sofrer um pouco com as batidas na testa. A essa altura, minha sogra já estava em casa e as mais choronas também. Eu? Fiquei. Apesar de estar sentindo pena. Resolvi parar por aqui, até porque... o conto da vaca fica pra outro texto!

A Vaca foi morta. Sua carne devidamente tratada. Quantos quilos? 15 arrobas. Cada arroba tem 15kg. Isso dá 225kg de carne. Que variaram em carne assada, fígado, cozida, frita. Enfim, tudo que você imaginar para garantir a satisfação da comunidade convidada. O que acompanhava? Que tal 40 grades de cerveja + 20 caixas de latinhas. Sabe o melhor? Não faltou cerveja pra ninguém. Foi perfeito pra quem queria ficar bêbado, pra quem queria desopilar! E melhor do que o melhor... sobrou!

Claro que no primeiro momento isso não foi bom. Afinal, a investida do senhor meu sogro que queria tudo perfeito pro seu varão, gerou um ar de preocupação no meu amor. Mas, cá pra nos, nunca fui numa festa melhor!

Voltando. A sexta foi carregada. As mesas e cadeiras foram lavadas, as coxinhas foram fritas, a casa arrumada para receber as visitas, as cervejas devidamente colocadas nos congeladores. Tudo encaminhado para que o sábado ficasse mais aliviado para todas nós. Não foi bem assim! A família chegou por volta das 19h da sexta-feira e organizar esse povaréu foi difícil. Meu avô, chegou dando trabalho a D. Aliete, pedindo para ouvir Edelweiss no som, leite morno e muita bajulação. O cansaço da viagem não atingiu os mais jovens, que logo se reuniram, levaram o som e foram para a sede do casamento. Forró, funk e muita swingueira garantiu a animação das famílias – que logo sentaram em blocos. Dudu ensinando as meninas a dançar e o Seu Miguel de olho. (mais uma vez!kkkkkkk). A noite passou rápido e entre uns goles e outros e muita diversão, fomos nos aproximando.

Dormimos. Logo cedo, levantamos. Quer dizer, alguns de nós. Fomos terminar de aprontar as coisas. Edna foi para Traipu, comprar CD’s para a festa e mais algumas coisas que estavam faltando – a decoração e o bolo que iam chegar pela manhã mas não chegaram! Enquanto isso, nós fomos fazer o vinagrete. Quaaaantos tomates, cebolas, repolhos nós picamos? A mesa ia revezando, até minha vó e tia Márcia entraram no bolo. Depois de encher 10 bacias, fomos ralar cenoura e fazer outras coisas. Homero tinha ido cuidar dos cabelos. Dessa vez só o vi de relance, enquanto eu estava arrumando o salão da festa – decidindo lugar de mesa, cadeiras, disposição para padrinhos, lugar pro bolo, etc.. ele ia buscar os amigos na Volta da Serra. Nos encontramos nesse caminho. Ele, de cabeça quase raspada – mais ou menos como estava em Belém.

A água acabou. Tomei banho de cuia, ajudada e acalmada pela mamãe. O estresse foi grande. O padre não podia esperar! E é porque ele ia ficar por volta de 15min falando. Pega o buque! A Edna não chegou! E as musicas, estão prontas? Quem vai subir no cortejo com o Homero, quem vai com a Débora? Opa! A hora do Cortejo...

O Noivo vai na frente com a mãe e os padrinhos, vai a pé até a Igreja para esperar a noiva. Meu amor foi. Lindo! Com sua mãe, deslumbrante e meu irmão, Juninho foi com ele.

O resto foi comigo. Depois de muita correria, vamos sair! Duas floristas vestidas de Salmão, uma noivinha maravilhosa e prestativa, um noivinho e uma daminha foram comigo na frente. A cidade parou. Não só parou, como admirou mesmo. A família vinha atrás, em filinha indiana. O calor? 40º Celsius, vestido e barro, uma junção prazerosa. Eu só me arrependo de uma coisa! De não ter tirado e jogado longe a minha sandália para sentir diretamente o contato da terra com aquela situação toda. As famílias foram para as portas, desejar boa sorte. Me senti num filme de época. As carroças de boi paradas na praça, os homens de chapéu grande parados olhando, as mulheres tricotando e olhando. Foi lindo.

Chegamos na Igreja. A entrada foi organizada pela cumadre Arlete. Quando subi os degraus da Igreja no tapete vermelho, Teatro Mágico começou a tocar nossa música “Cuida de mim enquanto não me esqueço de você!”. Ele tava lindo. Ali, paradinho me esperando. O clima era outro! Eu estava menos nervosa, apesar de saber que estava sendo muito mais analisada e julgada. Meu avo conseguiu me entregar a ele e rir. As pessoas estavam felizes, realizadas. E era só isso que nos importava.

O Padre leu seu livrinho de cerimônias e correu bem. Ele teve que pagar a correria, esperando que nossos 20 padrinhos assinassem como “Testemunhos” do nosso enlace.

Confesso que a parte mais gratificante foi ver que alguns amigos do Homero foram. Eu sabia o quanto era importante pra ele, como era pra mim em JP. Alguns, de muita importância, faltaram. Uns ele desculpou e entendeu, outros.. caíram no seu conceito. Cada um com seu cada qual.

O cansaço bateu. É visível nas fotos meu olhar de cansada. Mas eu não podia nem descansar. Tinha tanta gente querendo nos abraçar! Consegui fugir pra casa pra trocar de roupa, com o Homero e minha mãe, claro que só depois da sessão de fotos do querido Josian (maravilhosas as fotos). Voltamos. Fizemos um rodízio de se vira nos 30 e tentamos minimamente dar atenção a todos os convidados. Sentamos aqui, íamos ali, dançamos um pouco e tentamos dar uma ajuda pra parte prática da festa.

A festa começou por volta das 14:50... muita bebida, muita comida e atendimento de primeira. A satisfação das pessoas era visível. Alguns que não participaram, vieram nos cumprimentar e dar suas justificativas... a consideração foi ótima. Dona Aliete se desdobrou em milhares e garantiu, com muito carinho, que todos fossem bem servidos. Sr Miguel foi um super-pai e podia até abrir sua própria empresa de eventos! Eu me senti muito orgulhosa de contribuir para o orgulho que eles estavam sentindo naquele momento!

A festa foi simplesmente maravilhosa. Não vi ninguém reclamando, nem pedindo cerveja que demorava, ou carne. Nota? 10 mil! Djavu, funk, pagode e “ela sai de saia e bicicletinha...” foram os pilares da dança louca do salão! Eu queria ter sido convidada dessa festa. Kkkkkkk

O melhor momento pra mim? O choro do Homero. Ver o homem forte desmontar, sem medo, sem vergonha, sem a menor preocupação foi gratificante. A preocupação que uniu a família Dionisio num momento só deles foi muito prazeroso! Ali eu tive a maior certeza de com quem eu estava me unindo. Com um homem, que foi criado e amado acima de tudo. E estava entrando numa família maraaaaaa! E sabe por que ele tava chorando? Porque queria que o casamento tivesse sido perfeito pro pai dele – que tinha garantido a parte da festa.! Existe?

Meia-noite e quarenta minutos: expulsamos os alegres convidados. O cansaço tinha batido feio, em todos nós. E o pior era saber que no dia seguinte, tínhamos que levantar cedo para garantir a arrumação de tudo, a viagem do povo de fora e a corrida pela venda da cerveja – é, PASMEM. Sobrou! O deposito disse que ia buscar no dia seguinte. E para que Sr Miguel tivesse menos prejuízo, quase todas as grades foram vendidas a preço de milho.

O prejuízo foi GRANDE. Pra quem não foi! A cerveja que sobrou foi bebida às margens do rio São Francisco, num dia maravilhoso de sol e muito banho de rio! Sem contar com o carnaval em Olho D’água! Que perfeição... a bandinha reunida na praça, todo mundo melado de farinha, andando e cantando e seguindo a canção! Uma demonstração cultural que muito me agradou! As conversas e brincadeiras em família... a faxina na casa depois que tudo passou. As inúmeras coxinhas que sobraram e foram muito bem comidas durante os dias que passamos naquele lugar... no meu lugar.

Eu não poderia estar mais satisfeita ao relembrar tudo que aquele momento representou. Eu agradeço muuito a minha nova família pelo esforço e o bom grado ao fazer tudo, ao nos consultar antes de qualquer decisão, como forma de respeito e muito amor! Dona Aliete e demais mulheres dessa família: OBRIGADA pelas noites mal dormidas, pelo preparo de tudo nos mínimos detalhes!

Aqui, eu encerro a saga do casamento... foi um momento único na minha vida. Nas cerimônias e ocasiões que celebraram o nosso enlace, antes de mais nada, nosso comprometimento enquanto companheiros.

terça-feira, 16 de março de 2010

Relatos de uma recém-casada



Parte I – Nota introdutória.

Casei.

Nossa. Essa palavra de impacto deveria vir ao final do texto, acompanhada de um desfecho de suspense mútuo entre leitor-escritor. Mas não... não é mais segredo de estado. Me casei.

Se vocês esperam ler aqui uma crônica ou um desabafo de profundo arrependimento ou desgosto, poupá-los-ei de perder o vosso tempo e o meu: Fechem a página. Aqui não caberão arrependimentos.

Se eu pudesse escrever um livro... dedicaria cada capítulo serviria para trazer as minhas memórias a tona, seria bom pois eu faria uma viagem bem detalhada, para recuperar coisas que talvez me fujam no momento.

Voltemos ao livro... eu dedicaria um capítulo sobre a nossa história.. algo como “Um breve histórico”.. como tem coisa pra contar! Mas talvez eu me detenha ao capítulo mais recente dessa louca história de dois. O casamento. No meu sumário? Página 01.

Para introduzi-los: Eu e o Homero não temos um modelo tradicional de histórias que culminam para a união matrimonial. Vou citar alguns fatores e desenvolverei outros. Não namoramos há anos, não tínhamos famílias que eram amigas e faziam gosto e macumba para que a união saísse logo, não tínhamos perspectivas econômicas e não tínhamos esse desejo encarnado em nós. Pelo contrário. Talvez os amigos dele tenham mais propriedade para adentrar nesse universo místico que é o conhecer o meu companheiro, mas me atreverei a mesclar algumas palavras de definições, lutando contra a limitação... (partindo do pressuposto que se eu fosse descrevê-lo, meu livro tornar-se-ia, sem duvidas, uma Bíblia II versão contemporânea!).

Primeiramente: O Homero é aquela pessoa avessa a tudo que sirva de hipocrisia e de regras que sirvam apenas e tão somente para legitimar caducas formas de pensar, viver e aprisionar o homem em moldes pré-existentes numa sociedade que suga dele tudo que possa ser crítico. Ficou confuso? Deixa eu tentar clarear: Casamento. Uma das formas instituídas pelo Estado para legitimar o próprio estado e garantir a manutenção do sistema: atrelando a propriedade privada ao conservadorismo da formação da família. Citando Beauvoir, escritora do século XX, importante no tocante às discussões de gênero, também.:

“Casamento é o destino tradicionalmente oferecido às mulheres pela sociedade. Também é verdade que a maioria delas é casada, ou já foi, ou planeja ser, ou sofre por não ser.". O Segundo Sexo| 1949

Nossa... se eu fosse me aprofundar nessa discussão, eu mudaria o foco do texto o que geraria, se já não gerou, o desinteresse pelo texto. Voltando ao que interessa. Assim é o meu escolhido. Alguém critico, marxista, contrário a tudo que sirva de alicerce para a repressão estatal em virtude da exploração do homem. Ou seja: casar não estava nos seus planos, nem o mais longínquo pensado. Sua família, católica tradicional, já havia perdido as esperanças de casar o moçoilo que é o orgulho do pai, da mãe e da irmã.

Eu, por minha vez, já havia adiado o projeto do casamento para uns 20 anos à frente. Encontrar alguém que valesse a pena, que despertasse o sentimento de “para sempre”, de compartilhamento mutuo, de companheirismo na essência, já estava fora de cogitação. Não, não sou uma quarentona que já teve muito desgaste amoroso e tá frustrada! Eu só tinha outras prioridades: estudar, me formar, lutar para a transformação social tão querida e pretendida por nós!

Outro fator importante: Estamos na flor da idade boêmia! Onde sexo, drogas e rock’in’roll são as três fontes onde os jovens querem beber! Calma família, isso é só uma metáfora extravagante. Eu, com meus 22 e ele com seus 23 anos muito bem distribuídos. Vai dizer que a sua avó nunca disse: “Essa juventude não quer nada com nada mesmo! No meu tempo...”! E partindo disto, fomos contrários a uma massa de subversões ao casamento! Jovens, vivendo a universidade em sua plenitude: estudo, militância e experiências... Conhecendo pessoas, lugares, situações...

Esses fatores e outros comprovam a teoria de que nós não éramos o típico casal que apostava nessa coisa toda que é o casamento. E o que aconteceu então? Posso falar por mim. Ele atingiu as expectativas do meu ideal de companheiro com quem eu gostaria de dividir a vida toda. Carinhoso, sincero, presente, prestativo, inteligente, desenrolado, engraçado.. bla bla bla! E eis que antes de tudo, ele se tornou meu amigo! Sem contar com a parte física, paixão é essencial para uma decisão dessas, creio eu. Então na junção das coisas, ele apareceu e preencheu em mim algo que há tempos andava vazio. Por que não me render? Ta, mentira. Não foi assim tão imediato. Eu até tentei fugir. Tentei não me render por quase 2 anos completos. Anos esses que ele, com seu jeitinho, tentava me convencer de que nós seriamos felizes plenamente juntos. Eu demorei a dar o braço a torcer.. mas acho que dei no momento certo.

Então, o amor e a necessidade de ficarmos juntos incondicionalmente foi o que me impulsionou pela opção religiosa. Morar junto daria na mesma coisa, podem pensar alguns. Mas, eu vim de família religiosa e sem querer ser hipócrita, eu tinha meus ideais de uma cerimônia, só que no meu ver, ela seria fora da catedral. Porém... enfim. Assim foi! Resolvemos nos casar à beira-mar. Não, o casamento não seria a beira-mar, nós estávamos à beira-mar quando decidimos nos casar. Capiche? E ele brinca que fui eu que o propus. Talvez até tenha sido mesmo. Isso importa? Então, passando a introdução... vamos a loucura dos preparativos do casamento de João Pessoa... é, porque foram dois. Um aqui, em JP, na Igreja Presbiteriana e outro lá.. em Alagoas, em Olho D´água da Cerca, na Igreja Catolica Apostólica Romana


Parte II – A primeira cerimônia


O casamento, aqui falarei especificamente da primeira cerimônia em JP, trouxe boas surpresas e muitas decepções. A preparação para o grande momento foi repleta de agonias, estresse e muita brincadeira. Uma casa de 60m² foi porta-estadia de mais de 30 pessoas. Colchões tornaram-se camas triplas e o legal de ver de fora era não saber de quem era o braço por cima daquela outra perna.

O momento que muito nos deixou tensos foi o mais divertido: a apresentação da família Accioly à família Dionisio da Silva. Imagina ai a situação? Era um encontro histórico: Gregos e Italianos numa mesma mesa de refeição! Italianos são chamativos por natureza, falam demais... e os gregos fazem tudo à sua moda! O que sairia disso? Acertou quem apostou em SURPRESAS. O que parecia que seria um enfrentamento de idéias e costumes, foi um momento de descobertas, compartilhamento e muita risada.

Os patriarcas muito se entenderam. Um, falava demais.. o outro, ouvia demais. Um momento de perfeita sintonia.

As matriarcas – que eram três – também criaram uma relação de aproximação. Também! Não era pra menos.. as três em estados de nervos à flor da pele. Garantiram a parte difícil da estrutura: a cozinha. Comida não era muita, nem muito variada... mas também não faltou.

A parte jovem se entendeu perfeitamente bem. Dudu, para minha surpresa, despiu-se da máscara séria e enturmou-se com a Edna de forma paradoxal. E seu Miguel de olho atento! Mal sabia ele que quem ia se enturmar mesmo era o Netinho quando chegasse!

O casamento não foi fácil de preparar. Meus sonhos e minhas idéias não eram das mais simples e sugestões de amenizar o trabalho não foram por mim muito aceitas! Então, nas vésperas da cerimônia estavam: Vovó e mamãe se matando para cobrir as cestinhas... uma de cada cor que trariam pétalas da mesma cor para que as daminhas fizessem o tapete colorido para que eu passasse...não entendeu? Tem foto!

Juntar numa casa: flamenguistas, palmeirenses, corintianos, são paulinos e botafoguenses garantiu a risadaria masculina.

E o que você acha de ter uma VAN parada na esquina da Igreja, para descer uma tripulação arretada de pernambucanos que vieram só para ver você, assistir ao casamento e ir embora na mesma noite? Sem contar com a presença GRACIOSA da minha tia Gracinha de Brasilia (inclusive a responsável pelo meu presente doce - a lua-de-mel!). Tem o que pague? As gargalhadas e fofocas ao pé da escada dias antes??

Essa foi a surpresa boa. A família. Parte fundamental dessa zoeira toda. Meu tio Jr, que chegou de Fortaleza e não se rendeu ao sono ou ao cansaço e nos disse “contem comigo”, passando a andar pra cima e pra baixo de carro foi essencial.

Minha tia Lilia, com sua calmaria e seu doce modo de falar.. meus primos: Gui, Netinho e Mateus... boas conversas e gargalhadas! Matando um pouquinho da saudade...

Minha tia Liza, louca e engraçada, garantindo a bagunça do lugar! E sua amiga Rose, que se tornou nossa fotografa oficial!

Meu tio Wagner com seu jeito único de ser... se deliciando com as frutas nossas de cada dia, achando tudo tão bom que “tudo é a mesma coisa” desde a jabuticaba à serigüela!

Vovô achando tudo um espetáculo! Rindo, brincando, deixando todo mundo a vontade... vovó enlouquecendo para que todos se sentissem bem, garantindo a parte estrutural da coisa!

Mamãe nem se fala também! Fazendo a ponte JP – Olho D’água.

Sem falar nos amigos que fizeram presença... Flavinho, com seus filmes e falta de sono! Samantha, minha amiga gorda feliz! Henrique com suas teorias e graças...

E a outra delegação? A Alagoana! Nossa.. ver a Nayse arrumadinha como porta-aliança, com a mamãe coruja Arlete.. A sogrinha dando maior força e tendo um trabalhão para deixar meu vestido de noiva do jeito que eu queria, fazendo goma ao invés de ir se arrumar! Meu sogro ouvindo com o maior respeito as histórias engraçadas do meu avô.. E a Edna então? Espero ser para minhas cunhadas como ela foi para mim!

O bônus dessa louca história de casamento Greco-italiano foi, sem sombra de duvidas, a disponibilidade e disposição das famílias em deixar tudo como queríamos.

A recepção foi maravilhosa. Entrar na igreja e encontrar o sorriso dos amigos foi lindo. Inclusive encontrar aqueles que você não imaginava que apareceriam! Abrir os presentes foi emocionante e engraçado. É o começo de uma vida toda, NE? E essa parte deixou isso claro. Tudo novo, começando de novo.

Mas, como nem toda história é só alegria... eu tive um desgosto grande nessa história toda. Mas, em suma, foi boa para o meu aprendizado.

Um conselho vos dou: se não comparecerem a um momento importante da vida de um amigo seu, não dê desculpas. Digam o verdadeiro motivo.. seja ele “tive outras prioridades”, “tive preguiça” ou etc. Não digam que no dia tinha um bulldog parado em frente à sua casa o que o impossibilitou de sair (ops! A não ser que seja verdade. Rsrs), ou que não deu tempo de guardar dinheiro ou coisas similares. Nós, os amigos, não somos estúpidos o bastante para acreditar em qualquer coisa... mesmo se tenhamos dito “Ah, que isso! Eu entendo... não tem problema!” É mentira. Engraçado, apesar de nós estarmos chateados ainda tentamos encontrar meios para que vocês se sintam melhores... onde já se viu! É claro que ficamos chateados! Esse é um momento muito mais “pros outros” do que pra nós mesmos! Queremos ver a Igreja cheia, a festa boa! Queremos abraços dos mais chegados dizendo “Ei, to feliz por você” e pra surpresa geral da nação: esse é um poder que a internet e os meios modernos de comunicação ainda não desenvolveram.

Salvo exceções, claro! Houve pessoas que não puderam mesmo ir. Cada qual com sua consciência. E digo com a maior alegria do mundo: quem não foi, perdeu!

Aqui eu abro um parágrafo para falar de uma pessoa que fez muita falta nesse “meu momento” e que eu entendi e “perdoei” sua ausência. Digo perdoar entre aspas porque não há espaço para perdão porque não foi uma falha. É ela, minha irmã... a Nayara. Nunca imaginei esse momento sem ela. Sabe aquele filme americano onde você tem uma amiga desde pequena e ela ta sempre com você? É ela. Ela não tava aqui pra me ajudar no vestido, no véu, no buquê. Não organizou comigo uma lista enorme de presentes e pessoas que não deveríamos chamar. Não me chamou para sair uns dias antes para lembrarmos toda a minha louca historia amorosa, que ela sempre acompanhou tanto. Ela não me olhou antes de entrar e disse que tudo ia dar certo. Não fez os ajustes necessários na minha maquiagem.Ela não segurou meu buque enquanto eu enxugava as lágrimas. Mas no fundo, no fundo... ela se fez presente! Parecia que eu podia vê-la sorrindo, com os olhos vermelhos de choro, enxugando-os, olhando pra mim e dizendo: Vou borrar minha maquiagem! Para. É irmãzinha... a vida nos pregou uma peça.. mas não é tarde. Ainda tem o seu casamento! Kkkkkkkkkkkkk E não pense que isso diminuiu o meu amor ou consideração por você. Pelo contrário. Se você fez tanta falta foi só pra confirmar o quanto você é insubstituível.

Então é isso, por hora. O próximo capítulo será do casório numero II! J

terça-feira, 9 de março de 2010

Dia Internacional da Mulher, Dia pela Libertação da Mulher!




Eu acho tão "indescritível" o que se passa na cabeça dessas mulheres que enchem a boca, viram para um sexo-oposto e dizem "Ah, morra de inveja! Nós temos um dia só pra gente!". Pelo amoooordi. Com tanta informação vinculada na imprensa, com internet, com TV digital, com celular com TV... tem tanta gente desconectada com a realidade! Não vou abarcar tudo que essa minha ultima afirmativa apresenta, porque fugiria do tema e existem coisas que ficam melhores discutidas separadamente. Dia Internacional da Mulher. Esse é o assunto de hoje.


Então, tenho pena e desgosto quando vejo coisas desse tipo na minha frente. Ontem mesmo, assistindo ao BBB – calma, a tese explicativa do meu interesse por esse programa virá em breve! -, a baiana que abdicou do seu cargo publico e estável (ou seja: tudo que 90% da população, iludida, procura. É, porque emprego estável é tudo que interessa.. o problema é que eles não sabem que o Estado tá com seus dias contados.. err..) de Policial Militar para participar do reality show mais baixo da TV brasileira, isso sem ter a mínima noção de quanto tempo passaria no programa, deu um exemplo claro dessa ludibriante expectativa. Foi a minha conterrânea de região que soltou a pérola mais dita no dia 08 de março no mundo inteiro: "A gente é tão chique, que tem um dia só nosso" e quando ia ser interrompida pelo colega de confinamento, riu e disse "É, eu sei que vocês vão dizer que têm todos os outros pra vocês!". Não, Maroca e mulherada restante, a questão não é essa.


Primeiramente, uma questão perceptiva: Quem (leia-se quais grupos/setores) têm um dia reservado no calendário para comemoração ou reflexão? Pensem...


- Índios, negros, homossexuais (dia do orgulho gay), mulheres...


Minorias. Minorias oprimidas. É um modo muito do fajuto de reconhecimento: olha lá, vocês são tão reconhecidos por nós como partes ativas e iguais da sociedade que até comemoramos um dia dedicado a vocês e às suas histórias de formação. Bobagem, bobagem. Não só bobagem, mas mentira. É uma manobra de enfraquecimento da classe.


O dia de ontem (já que estou escrevendo esse texto no dia 09 de março), foi um dia interessante. Passei grande parte do dia em casa, assistindo os mais variados canais da TV aberta. As menções do SUPER dia das mulheres foi instigante. A menção mais bonitinha que eu tive acesso foi a da propaganda da Marisa. Faço aqui ressalva da revirada do Oscar, onde pela primeira vez, uma mulher recebeu os dois prêmios mais almejados do mundo do cinema: Melhor direção (por um filme de Guerra) e Melhor filme. ("URUUUL! Nós mulheres estamos conquistando todos os espaços possíveis! Ok, ok!")


Sei que esse texto tá deixando muitas lacunas passiveis de discussão em branco, mas é um tema bastante abrangente.. e eu não posso perder o meu foco. Quero aqui, dedicar o Oscar da Abobrinha Máxima, com direito a três diárias no Reino do Inferno, ao Bruno, jogador do Flamengo, clube este que é presidido por uma Mulher! (Olha aii!).


Ao sair em defesa do atacante imperial e intocável do Flamengo - Adriano, o goleiro titular do atual clube campeão brasileiro e dono da maior torcida do Brasil, Bruno, deu com os burros n'agua! Mas o lado positivo é que ele conseguiu desviar os focos do ex-jogador da Internazionale de Milão e pretendido a seleção do Dunga, trazendo todos os holofotes para si! Eis as palavras sábias do dito cujo:


"Ah, quem é que é homem aqui e que nunca brigou com a mulher, nunca discutiu e nunca até saiu na mão com a mulher? Isso acontece NE? Em briga de marido e mulher ninguém mete a colher."


É, meu querido. E você, sem duvidas, deveria ter mantido a sua colher fora da briga do companheiro, talvez assim, não tivesse tentado naturalizar um ato de violência previsto na lei. (Como se nós mulheres precisássemos dessa apologia toda!)


Não, não é sobre a violência contra a mulher que vou falar. Apesar disso, necessariamente, estar envolvido.


A questão aqui é a emancipação da mulher enquanto individuo social. Enquanto ser político, histórico. Enquanto SER. É a luta pela ampliação dos direitos, do mercado de trabalho, da igualdade de tratamento não por boa-vontade do patrão, do companheiro, da sociedade como um todo, mas por igualdade prevista na LEI. Ao contrário disto, temos diariamente uma luta reformista que castra cada dia mais os direitos das mulheres na incessante batalha contra o modelo de sociedade vigente, luta esta que em muito tem falhado.


Historicamente, alguns podem se atrever em dizer que "há, sempre foi assim!". Peralá! Vamos analisar esse sempre.


Na pré-história, antes da invenção da escrita, cabia a mulher o papel de administradora do lar (entende-se por administradora: a parte pratica de administrar a comida, o material trazido de fora, a segurança da casa em virtude dos animais selvagens e porque não de membros de outras organizações, além de cuidar e "treinar" as crias) e ao homem cabia a parte física: caçar. Isso quando no papel da mulher também não se garantia a caça.


Com o aparecimento da família moderna, onde tudo gira em torno da propriedade e na qual a mulher passou a ser escrava de sua condição, torna-se propriedade do homem, o responsável por sua subsistência. Anteriormente, seu pai, a quem cabia decisões acerca de tudo da sua vida. Posteriormente, muda-se o dono, que passa a ser seu marido. A mudança de "dono" dá-se a partir de uma ordem de transferência, assinada a partir de um contrato social entre as partes interessadas. Esse contrato é chamado Matrimonio, através do qual o antigo patriarca vendia o direito de posso de sua filha a outro alguém de família nobre, que garantiria a manutenção da sua condição escravista.


Não, essa não é uma resenha de um livro de época do José de Alencar. É como as coisas aconteciam e acontecem, apesar de pequenas mudanças contratuais. Isso sem lembrarmos das antigas civilizações que emudeciam suas mulheres, subjugando-as as mais duras detenções e exclusões sociais. "Amélia é que era mulher de verdade"... as gregas que o digam!! Por que ao invés de nos mirarmos no exemplo das mulheres de Atenas, não miramos no exemplo das mulheres de Esparta, que eram consideradas cidadãs, dignas de cargos políticos, muitas vezes atuando como conselheiras, participando ativamente da vida política e social de seu espaço?


Só espero que a par desses "costumes antigos" não nos iludamos de que isso não mais existe. Diversas pesquisas deixam claro o jugo que ainda persiste sobre a cabeça de nossas mulheres, filhas de Atenas: salários mais baixos, preconceito, desmoralização, péssimas condições de trabalho. E a pesquisa mais recente a qual tive acesso, disse que mesmo com a mulher trabalhando fora, ainda é responsável pela maior carga de atividades domesticas. Ou seja, o trabalho não vem sendo compartilhado. Se eu não me engano, apenas 9% dos homens são ativos nas atividades domésticas. Aqui, aproveito para citar Engels:


"... se a mulher cumpre os seus deveres domésticos no seio da família, fica excluída do trabalho social e nada pode ganhar; e, se quer tomar parte da indústria social e ganhar a sua vida de maneira independente, lhe é impossível cumprir com as obrigações domésticas. Da mesma forma que na fábrica, é isso o que acontece à mulher em todos os setores da advocacia. A família individual moderna baseia-se na escravidão doméstica, franca ou dissimulada, da mulheres, e a sociedade moderna é uma massa cujas moléculas são as famílias individuais".


Não estou aqui fazendo alusão a "troca de gênero". Em que o homem assuma as atividades outrora outorgadas às mulheres e vice-versa. Eu acredito mesmo na emancipação da mulher enquanto individuo e parte de um coletivo, na erradicação da situação imposta à mulher, que implicam no aumento das diferenças e que dão margem ao rebaixamento, a opressão e ao subjugamento de uma classe por outra.


Desde os primórdios, as mulheres buscam seus meios de revolução. Revolução para ter acesso ao seu corpo, acesso à sua imagem, ao seu cérebro, ao seu livro, às suas idéias e, principalmente, às suas escolhas.


Quando atingirmos o acesso pleno aos nossos direitos, a nossa consciência enquanto ser, enquanto classe marginalizada, seremos reconhecidas e respeitadas não enquanto mães, poetizas, escritoras ou atrizes... mas também como faxineiras, porteiras, professoras e acima de tudo e além de tudo como Mulheres.



  • Abaixo a repressão de gênero, classe, opção sexual, raça, etnia!

  • Direitos Iguais a tod@s!



Por Débora Accioly Dionisio


"A revolução conquistará a todos... inclusive o direito à poesia!" Trotsky